Sobre o Centro de Referência e Memória dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Inúmeras pessoas, entidades, universidades, ONGs, realizaram, com apoio do acervo da indigenista Geralda Soares e de seus conhecimentos, registros com foco no processo de articulação para viabilização do território de um grupo de famílias Pankararu que, após 30 anos de “desterritorializações”, motivado pela busca de um ancestral mantido no Presídio Indígena criado pela Ditadura Militar, tentava reconstruir sua história (e, unindo-se aos Pataxó, em 2005, criaram a Aldeia Cinta Vermelha-Jundiba, em Araçuaí/MG). Com um grande apoio da Diocese e de Geralda Soares, há uma importante atuação na mobilização dos demais povos para retomarem discussões voltadas a uma realidade mais global (por exemplo as mudanças climáticas e o “Bem Viver”), e cuja estratégia era atingir novas gerações, através da convivência com os pajés, conhecedores/as de plantas medicinais. Torna-se necessário conhecer esta realidade da própria sustentabilidade das aldeias a partir da popularização da história e da cultura, da viabilização de encontros, fornecendo assim elementos que fortaleçam sua cultura e qualifiquem sua atuação. Entre 2014 e 2015, além das consultas ao acervo bibliográfico que já eram feitas por pesquisadores de diversas áreas e instituições no Brasil e no mundo, e do acolhimento aos indígenas que procuram o centro, das visitas e intercâmbio de experiências, foram realizados três encontros de Pajés e de Mulheres, a partir de uma parceria da Aldeia “Cinta Vermelha-Jundiba” com a “Universidade De Granada” (Espanha) e o “Instituto Fênix” (Araçuaí), com a presença de lideranças dos povos indígena Maxakali, Kaxixó, Pankararu, Tuxá, Guarani, Tupinikin, Mocuriñ, Guarani, Pataxó, quilombo Baú, mulheres benzedeiras, raizeiras e parteiras do Vale do Jequitinhonha. A diversidade sociocultural e o intercruzamento de conhecimentos tradicionais fomentou a elaboração de novos materiais (registros, vídeos, cartilhas) que ampliam e qualificam o acervo e contribuem para a divulgação dos saberes indígenas.
Há cinco anos, vem sendo desenvolvido um projeto de pesquisa voluntário com vistas à revitalização das raízes históricas das “Mulheres Canoeiras” do rio Jequitinhonha. Busca-se compreender a dinâmica social dessa narrativa, investigando, entrevistando e propondo reflexões com as famílias destas mulheres canoeiras, antigos/as canoeiros/as e moradores/as ribeirinhos/as. Intenciona-se complementar e qualificar a história do município de Araçuaí, a partir da visão de outros atores sociais. Espera-se, ao final, lançar luzes sobre este tema tão invisibilizado na historiografia oficial do Vale do Jequitinhonha.
Realizam-se aqui várias atividades em parceria com escolas municipais e estaduais, universidades em vários municípios, mas o espaço é insuficiente para a adequada manutenção do acervo e para as visitas de alunos e pesquisadores. Foram realizadas palestras, sempre com a presença de representantes indígenas, e disponibilizados materiais de pesquisa para professores e professoras. Com maior visibilidade, se acentuaram as visitas de pesquisadores/as, estudantes de diferentes níveis de formação. Após dois séculos de silenciamento, começa-se a dialogar sobre a memória indígena desde a ótica dos povos da região e sobre as políticas governamentais, sobre seus direitos e sobre a importância da presença destes povos nestas regiões.